Bares e restaurantes temáticos, o foco: ter um diferencial, uma identidade única.
Por: Adriana Furquim
Num mundo cada vez mais globalizado, as mudanças na economia e na política refletem diretamente na cultura e no comportamento dos indivíduos, impondo uma nova ordem: a necessidade de se destacar, de criar uma identidade e se diferenciar, tornando-se único. Ultimamente, é fácil perceber a forte influência deste movimento nos diversos segmentos do food service. Bares, restaurantes, lanchonetes e até mesmo hotéis e motéis vem fugindo dos conceitos tradicionais e criando alternativas para conquistarem seu espaço diante da acirrada concorrência. A estratégia visa atrair a clientela e concorrer de forma diferenciada no setor gastronômico. Os motivos para a criação de um empreendimento temático são variados e abrangem desde uma homenagem a algo ou alguém, até temas exóticos, para não dizer estranhos. Na maioria, o objetivo comum é divertir e alimentar, promover aquele momento sublime de prazer e bem estar. Aí vale a criatividade. No segmento de bares e lanchonetes há a maior variedade de temas explorados, entre eles, aqueles espaços para amantes de futebol, com jogos de tabuleiro, arqueria, praias artificiais, favelas, de época, anos 50, 60, enfim... há negócio de todo o tipo. Acreditem, pesquisando o assunto, encontrei até mesmo um restaurante que retrata o ambiente hospitalar, onde as refeições são servidas em utensílios que imitam instrumentos cirúrgicos. Pode??? Entendo que existam limites, pelo menos para aqueles que buscam longevidade ao negócio. Lugares temáticos são normalmente mais coloridos, descontraídos, acolhedores e nos transportam a uma outra realidade, são como verdadeiros oásis para os consumidores. A intenção é justamente cativar os clientes com uma decoração e ambientação que complementam o tema escolhido e transcendam a razão.
Originalidade no cardápio, nos uniformes, na identidade visual é condição fundamental. Pode ser um boteco carioca, um restaurante árabe, uma cachaçaria, o desafio está em criar uma nostalgia com tom contemporâneo, apelando à memória afetiva, fazendo história. Naturalmente a cozinha tem que acompanhar a proposta. Nestes espaços, mesclam-se elementos do tema associados aos valores tradicionais, e devem ser considerados ainda fatores tecnológicos e modismos.
No planejamento de um restaurante temático, por exemplo, com foco na cultura regional, deve-se construir a imagem sobre algumas figuras tradicionais da região, o que certamente irá gerar um sentimento de identificação do público com a cultura do local. Caso contrário, pode-se desencadear uma crise de identidade, uma situação onde o cliente não identifica os valores propostos pelo estabelecimento. Conflitos no conceito e na ambientação desencadeiam uma reação negativa que pode levar ao insucesso do empreendimento.Como exemplo, já imaginou um restaurante japonês vendendo feijoada? Pois é, existem vários por aí fazendo esta mistura, sem qualquer foco, sem qualquer critério. Nos últimos cinco anos, proliferaram nas grandes cidades, bares e restaurantes temáticos que indicam como a variedade cultural tomou conta do nosso dia-a-dia. Os primeiros restaurantes de cozinha regional, por exemplo, exploravam apenas o cardápio de comidas típicas de determinada região. Hoje já é comum encontrarmos elementos da cultura também na decoração do ambiente, imagens no cardápio, apresentações musicais de grupos com um repertório específico e no material gráfico publicitário desses locais. Desta forma, a temática é reforçada na arquitetura do ambiente e na comunicação, agregando valor ao serviço oferecido, diferenciando-o da concorrência.
Na prática, o empreendedor que pretende investir neste segmento, deve ficar atento a estes detalhes e tomar alguns cuidados extras, evitando erros comuns que põe em risco todo o projeto. O primeiro passo é estudar bem o tema que será desenvolvido. Cozinha regional, internacional, esportes, seja qual for o tema escolhido é imprescindível conhecê-lo para então estabelecer o conceito do empreendimento. As informações podem ser obtidas a partir de uma pesquisa no mercado sobre os estabelecimentos similares ou que tenham conceitos específicos. Um estudo de viabilidade econômico-operacional deve acompanhar a análise do mercado. É nesta fase que se levantam a origem, história, tendências, possíveis parceiros e investidores. A base de tudo está na definição do conceito que engloba o perfil do público-alvo, a tipologia de serviço, um mapeamento sobre a área/localização e, principalmente, a definição dos produtos alinhada com as expectativas e necessidades da clientela. A partir daí, vem a escolha e adequação do ponto, desenvolvimento do cardápio, criação da marca e identidade visual. A comunicação é crucial!
Para não perder o foco, há 5 perguntas que devem ser feitas constantemente pelo empreendedor: o que, para quem, como, onde e porque eu vendo. Elas compõem um planejamento estruturado, que vai facilitar as tomadas de decisão sobre os investimentos necessários, caracterizam e definem o modus operandi do empreendimento. Ressalto que as dificuldades enfrentadas hoje, diante de um segmento dinâmico, com clientes cada vez mais exigentes, desafiam os empreendedores a fazer um bom planejamento com foco em resultados. Produzir com qualidade exige conhecimento dos processos operacionais, da gestão de pessoas, da correta formação de preços e estratégias de vendas, assim como das ferramentas de marketing que poderão ser aplicadas. A luta travada é pelo crescimento sustentável e pela permanência no mercado, que já ultrapassa a barreira das habilidades em empreender e exige atenção contínua aos métodos de gestão, seja de um empreendimento temático ou tradicional. O lado bom disso tudo é ganhar espaço no mercado, situação quase que garantida pelos espaços temáticos bem desenhados. Ousadia e criatividade somadas a uma oportunidade de negócio dão resultado líquido e certo. Lembrete: uma atenção especial deve ser dada aos modismos e a sazonalidade de alguns produtos. Não se pode negar que o mercado está recheado de casos de vitórias e conquistas, mas há também muitos que não se consolidaram. Certamente em alguns a falta de conhecimento, disciplina e visão de mercado podem ter feito toda a diferença, mas, neste nicho específico de empreendimentos temáticos, a maior falha seguramente está na escolha do tema conflitante com as expectativas e desejos da clientela, evidenciando o erro de conceito. Portanto, prover seu planejamento de informações criteriosas é condição única para reduzir o risco do negócio e conduzi-lo ao sucesso, fortalecendo-o com práticas de gestão adequadas, com dedicação e comprometimento. Garanto: os esforços vão valer a pena!
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